Feminismo Anticapitalista Contra a Barbárie!

Introdução
Esta é uma contribuição feminista ao Encontro Nacional de Mulheres do PSOL, que foi escrita a muitas mãos por militantes independentes dos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, assim como por mulheres da Comuna, tendência interna do PSOL, num processo de diálogo e escuta, de troca de experiências que nos forjam cotidianamente para as muitas lutas que enfrentamos, experiências essas que são para além de plurais, irmãs, experiências de ousadia daquelas que sempre marcharam em luta. Compartilhamos reflexões sobre a realidade da vida das mulheres e os impactos do avanço do conservadorismo, das medidas de austeridade e dos ataques aos direitos que repercutem em nossas vidas, assim como apontamos a atualidade e a centralidade da luta feminista neste contexto, em tempos onde o grito só não basta, é preciso transformar nossa resistência em formulação coletiva e atuação democrática. Utilizamos, para isso, as “lentes” das lutas das mulheres em seus territórios urbanos e rurais, em defesa dos bens comuns da natureza, em defesa de seus direitos como classe trabalhadora e como mulheres que querem amar e viver livremente suas relações sem as imposições da heteronormatividade e do patriarcado, em defesa da vida das suas e dos seus, em defesa da liberdade para existir e ocupar os mais diversos espaços. Para nós, o Encontro Nacional e seus encontros estaduais de Mulheres do PSOL acontecem num momento crucial para o partido e para a auto-organização das mulheres dentro dele. Em tempos de profundos retrocessos no Brasil e no mundo, compreendemos que é preciso reafirmar os marcos democráticos e fortalecer os instrumentos de formulação coletivas na base do partido, para que possamos dar respostas à altura do que o tempo presente nos exige. É hora de tomarmos nas mãos a nossa trajetória coletiva, como mulheres do PSOL. Portanto, convidamos todas a lerem e dialogarem com a nossa contribuição!
A conjuntura que paira sobre nós: lutas, resistências, perspectivas
Em um contexto internacional de convergência e agravamento de crises - econômica, social, política e ambiental - as mulheres são resistência, mas também são as que mais sofrem. Os processos de crise social, como de guerra, exigem das mulheres manter seu trabalho doméstico com menos condições e apoio. Estes processos levam também a situações de imigração, que aumentam as condições de vulnerabilidade socioambiental das mulheres por serem a maioria dos refugiados climáticos. Também as crises políticas as atingem de forma diferenciada, pois elas veem suas liberdades e direitos sendo atacados, e suas necessidades subrepresentadas em contexto de ascensão de ideologias conservadoras e reacionárias. Do ponto de vista econômico, o desemprego, a carestia e a precarização do trabalho atingem principalmente as mulheres e ainda mais as mulheres negras e mulheres trans - mais de 90% dessas últimas estão na prostituição. Há predomínio de mulheres nos ramos mais precários (via terceirização, subcontratação, etc) da economia, assim como nos setores mais mal pagos. Esses fatos têm impacto na saúde das mulheres, que adoecem mais durante a vida do que os homens, apesar da expectativa de vida ser maior.
O Brasil vem de uma história de colonização, escravidão e genocídio das populações originárias e das populações traficadas da África - que significou também a exploração predatória e agressiva da natureza para fins de lucro. Nesse contexto, as mulheres indígenas e negras são as que mais sofreram e mais resistiram à história de submissão do território chamado Brasil às necessidades de acumulação dos países imperialistas. E esse protagonismo ainda é muito atual.
Os governos que alçaram o poder nas últimas décadas implementaram projetos desenvolvimentistas predatórios e venderam a ilusão de que o Brasil estava iniciando um período de transição à democracia e que poderia se tornar um país rico, o que mudaria a vida da população, inclusive das mulheres. Embora os governos do PT tenham dado abertura para vitórias de históricas reivindicações das mulheres - direitos trabalhistas para as trabalhadoras domésticas remuneradas e legislação sobre a violência doméstica, por exemplo - o avanço do projeto desenvolvimentista significou a inclusão social pelo consumo, sem modificar os alicerces estruturantes do capitalismo e do patriarcado, sem consolidar direitos sociais e sem desonerar as mulheres da sobrecarga do trabalho invisibilizado e não-pago realizado nas famílias e comunidades. A multiplicação de grandes obras e megaprojetos expulsaram as mulheres e suas famílias de seus territórios (à exemplo das indígenas e quilombolas) e aumentaram a vulnerabilidade das mulheres à violência e exploração sexual, além de terem provocado impactos ambientais que podem - e levam - a crimes como os da Samarco em Mariana e da Vale em Brumadinho.
Atualmente, podemos observar como a convergência de crises atinge o Brasil de forma particular e grave - o que por aqui também é pior para as mulheres. Os processos de contrarreformas neoliberais tendem a atingi-las e sobrecarregá-las mais, além de mantê-las como maioria entre as pessoas desempregadas. Também a ascendente extrema direita reforça ideologias que se focam na ideia de família tradicional, para justificar que as mulheres se mantenham em casa. Além disso, aumenta o encarceramento feminino, o que causa fissura no tecido social, institucionalizando cada vez mais crianças e jovens, por exemplo.
A eleição de Bolsonaro se dá nesse contexto, e contra fortes mobilizações de mulheres que reconheciam como seus direitos e suas vidas estavam ameaçadas por ele. E elas não se enganaram: nos cinco primeiros meses de governo, Bolsonaro e seus ministérios atacaram de diversas formas as mulheres, a classe trabalhadora e a natureza. Desde a proposta da contrarreforma da Previdência, à flexibilização da posse e porte de armas, aos cortes na educação e ao desmonte de ministérios estratégicos para a implementação de políticas imprescindíveis para a população feminina, tudo indica que está em curso um projeto cada vez mais submisso aos interesses do capital internacional e, portanto, mais distantes das necessidades das pessoas de forma geral. Algumas dessas medidas mostram seu caráter diretamente misógino, como a recente proibição da utilização do termo “violência obstétrica” nas ações da saúde pública, o que significa não reconhecer e reproduzir os mais diversos abusos que já ocorrem cotidianamente durante os partos. Outras medidas atingem de forma particular as mulheres, como os ataques e ameaças voltadas às populações indígenas e as tentativas de reduzir a proteção do meio ambiente. Também vão nesse sentido os ataques e a censura à educação, além do combate à “ideologia de gênero” - nesse caso as mulheres trans ficam especialmente vulneráveis à violência e deslegitimação social. É importante também lembrar que uma das primeiras medidas de Bolsonaro foi tirar a pauta LGBTQ da secretaria de direitos humanos: trata-se de incitar o ódio contra essas populações.
Se o contexto de violência e extermínio da pobreza mata predominantemente os homens, são as mulheres (mães, esposas, filhas e irmãs) que mais sofrem com transtornos fóbicos, ansiosos, somatoformes e depressivos, muitas vezes as incapacitando para o trabalho remunerado. Há, para isso, algumas explicações que envolvem o contexto de vida, a discriminação nas relações de trabalho e a sobrecarga de responsabilidades impostas pelo trabalho doméstico. Somadas a estes problemas, há outras variáveis como raça, etnia, situação de pobreza e exclusão social. Não é por acaso que as pessoas mais vulneráveis a transtorno mentais são as trabalhadoras informais e/ou analfabetas.
Assim, embora a inserção da mulher no mundo do trabalho aconteça, ela ocorre de forma precarizada. Há muito mais mulheres do que homens nos setores mais precários e informais, em sua maioria ocupados por mulheres negras. Os dados da diferença salarial entre homens e mulheres são expressão dessa desigualdade. Elas chegam a ter salários 30% menores do que os primeiros, e a diferença aumenta em relação a mulheres negras, que podem ganhar até 60% a menos em relação aos homens brancos.
Além de terem salários menores, o mundo do trabalho também discrimina as mulheres que são mães, não adaptando a rotina do trabalho à outra dimensão imposta exclusivamente à mulher, o cuidado. Em pesquisa da Fundação Getúlio Vargas foram apresentados dados em que é confirmada o preconceito a trabalhadoras-mães, principalmente de recém-nascidos. Nesse estudo demonstrou-se que no Brasil 50% das mulheres são demitidas em até dois anos depois após a licença maternidade, cerca de 10% já são demitidas após o término do período de estabilidade. A ausência de investimentos relevantes em políticas públicas como creches, lavanderias comunitárias, restaurantes populares contribuem de sobremaneira para esse quadro.
Assim, as desigualdades de gênero, que têm sua raiz na diferenciação, resultam na existência de mais mulheres em situação de pobreza que homens. Elas ainda trabalham mais horas/dia, recebem menos e metade de seu tempo é gasto em atividades não remuneradas, o que dificuldade o acesso a serviços. Outra expressão da desigualdade de gênero é a violência contra as mulheres, um dos atos considerados mais cruéis e desrespeitosos diretamente aos Direitos Humanos: pelo menos dez mulheres morrem por dia no Brasil vítimas de violência.
A legislação moderna brasileira nem sempre combateu a violência contra a mulher, o Código Civil de 1917 legitimava que as mulheres casadas eram consideradas incapazes, o casamento tornava as mulheres dependentes dos maridos, assim eram privadas de exercer seus direitos pessoais e patrimoniais. Além disso, os crimes cometidos ‘em defesa da honra’ também eram justificados pelo mesmo código, o que só é alterado pelo Estatuto da Mulher Casada de 1962. Mas só em 2006, com a Lei Maria da Penha que há uma legislação específica contra a violência que acomete as mulheres. Essa lei foi fruto de anos de luta das feministas, e é importante por reconhecer, além da violência física e sexual, também a violência psicológica, moral e patrimonial - aspecto essencial para se entender a ampla gama de violências a que as mulheres estão submetidas e buscar combatê-las. Mas, além disso, também a atenção à vítima a partir de medidas protetivas e fortalecimento da rede de atendimento à mulher foi um avanço essencial dessa legislação. Ainda assim, há muitas violências contra a mulher que seguem invisibilizadas e naturalizadas. É o caso da objetificação das mulheres na mídia, que as pressiona desde muito jovens a atender padrões estéticos irrealizáveis e reforça a hipersexualização, principalmente das mulheres negras. É ainda o caso de violências no acesso à saúde - desde a violência obstétrica, até o não atendimento a demandas específicas de mulheres lésbicas, bissexuais e trans.
A proibição do aborto, principalmente no Sul global, também é uma violência, produto de uma política que controla o corpo das mulheres e os coloca, de forma utilitarista, a “serviço” dos interesses do Estado e do capital, assim como controla os territórios. A ideologia da família tradicional, que coloca a maternidade como centro compulsório da vida das mulheres, culmina na tortura de mulheres que são obrigadas a parir mesmo tendo sido violentadas, em vários lugares do mundo, além de culminar na morte de milhares de mulheres que buscam métodos clandestinos para controlar seus corpos. No Brasil, ainda que haja três casos em que o aborto é legalizado - risco de vida, anencefalia e estupro - , mesmo esse direito muitas vezes não é garantido na prática, e, legalmente, a cada dia, está mais ameaçado.
O proibicionismo, baseado em valores econômicos e morais, produz muitos impactos em termos de controle social e dominação sobre a vida das mulheres. Além da proibição do aborto, a proibição das drogas, internacionalmente e no Brasil, promove verdadeiras guerras urbanas, cenário que impõe um cotidiano de dor e sofrimento sobretudo para as mulheres negras de favelas e periferias. O exponencial aumento do encarceramento feminino nacionalmente tem relação direta com os contornos de nossa atual lei de drogas, já que a maioria das mulheres presas são enquadradas pela lei de associação ao tráfico de drogas muitas dessas mulheres, quando não estão encarceradas, acabam envolvidas em uma lógica profunda de violência física e psicológica. Pouco se fala sobre as mulheres mães que têm seus direitos violados no sistema penitenciário, seja, de forma mais profunda, enquanto encarceradas, ou sofrendo humilhações frequentes para visitação de seus entes queridos em privação de liberdade. A luta dessas mulheres é também por memória e justiça, pela memória de seus filhos e entes, para que a sociedade lembre que o Estado também mata e que se hoje há tanta guerra, existe um local onde mais corpos tombam e uma cor que é alvejada com frequência. É preciso considerar que o futuro das comunidades periféricas está ameaçado, que sua juventude vem sendo cotidianamente assassinada e que esses espaços são geridos majoritariamente por mulheres que assumem sozinhas a tarefa de organização e manutenção de seus lares. O Estado se exime de responsabilizar os homens para com a paternidade e se exime de responsabilizar-se a si mesmo para com a promoção da educação, da saúde e da geração de empregos para os filhos e os companheiros dessas mulheres. Pouco se fala também sobre o corte interseccional que marca a história das mulheres encarceradas, 50% das mulheres presas no sistema prisional brasileiro, são jovens com menos de 29 anos e 67% das mulheres encarceradas são negras, segundo dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (INFOPEN Junho – Dezembro / 2014) Tanto a proibição do aborto, quanto a proibição das drogas - que encarcera e também gera uma política de saúde mental excludente e uma política de segurança pública genocida - são dispositivos de controle da vida, que matam, torturam e aprisionam nossos corpos.
São os passos dessas mulheres, que em meio a todos esses enfrentamentos ousam resistir, os que nos mostram o caminho da luta coletiva que é cada vez mais necessária, mas também indicam como podemos pensar outras formas de relação entre as pessoas, e das pessoas com a natureza, como os acúmulos sobre o Bem-Viver apontam. Em conjunto com as indígenas, camponesas e sem-terra, vítimas da histórica concentração fundiária e linha de frente na luta pela reforma agrária e pela soberania alimentar, e com as mulheres trabalhadoras em geral - superexploradas, precarizadas - nos ensinam a pensar uma sociedade em que nossos corpos e a natureza não sejam objetos para o capital explorar.
Assim, entendemos que a desvalorização do trabalho doméstico e do cuidado, que aprisiona a mulher ao lar e multiplica ciclos de violência, além de justificar diversos mecanismos de controle de seus corpos, assim como a desvalorização da natureza e dos seus seres, não é um acidente do desenvolvimento das sociedades capitalistas - é projeto político. A luta da classe trabalhadora contra a exploração capitalista passa pela luta das mulheres contra a opressão, e pela luta de todas e todos por uma relação que não seja predatória, exploratória e destrutiva com a natureza e com os seres vivos.
É o feminismo que move o mundo!
Não há nada no mundo que não passe pela mão das mulheres como sujeito coletivo. Somos objetificadas nesse processo de disputa de poder, que notoriamente tem formas de homem, hétero e branco. Cada vez mais temos que lutar duplamente para reafirmar os nossos direitos e assegurá-los. Mas o que se nota é o crescimento de mulheres que estão se entendendo no mundo como seres independentes.
As mulheres sempre estiveram à frente de grandes processos de mobilizações, greves e revoluções pelo mundo. Nos últimos anos, presenciamos um ascenso das lutas das mulheres, seja por seus direitos, seja pelos direitos de amplos setores da população. Alguns destaques são as greves de mulheres (principalmente na Europa e nos EUA), a força mobilizadora das mulheres camponesas, indígenas e quilombolas na defesa dos seus territórios, os grandes movimentos pela legalização do aborto (Argentina, Brasil e a vitoriosa Irlanda), e levantes contra regimes autoritários, como os já vistos nos EUA (contra Trump), Brasil e recentemente no Sudão. No Brasil, protagonizaram o #EleNão contra uma candidatura que avançava sobre as mulheres, a negritude e a comunidade LGBT, além de defender um projeto neoliberal de ataque às trabalhadoras e aos trabalhadores.
No contexto latinoamericano, mas também em outros países do sul global, vem ganhando força uma vertente do ecofeminismo que visibiliza e valoriza o papel e o trabalho das mulheres em seus territórios, onde predominam organizações societárias do tipo comunitárias. A partir destes lugares, onde as pessoas se reconhecem e assumem coletivamente o trabalho (re)produtivo, monetário e não-monetário, cuidam dos bens comuns da localidade (acesso a água, terra, sementes, produção saudável de alimentos), as mulheres se sobressaem como principais lideranças justamente porque são estes territórios que estão na alça de mira dos principais setores do capitalismo transnacional, que enfrentam a criminalização e o extermínio. Isso significa que é nos territórios tradicionais e na agricultura camponesa, que produzem cerca dos 70% dos alimentos ingeridos no Brasil, onde se localiza um dos principais cenários de resistência contra o avanço do agronegócio e dos megaprojetos predatórios da mineração, tendo as mulheres como principais protagonistas.
Não permitiremos, sob nenhuma hipótese o retrocesso do que já foi conquistado. A solidariedade comum entre as mulheres afronta o projeto que quer instigar disputas entre nós, projeto que nos manipula e cega para objetivos maiores, como nos amarmos, nos ajudarmos, nos enxergarmos nas outras e unir nossas forças. Nossa aposta, visando uma ampla transformação social, deve ser na independência da organização das mulheres e da classe como um todo. Sabendo disso andamos de mãos dadas e só largamos para nos abraçarmos e escrever os nossos próximos passos como protagonistas de nossa história
Contra o autoritarismo da política geral, contrapomos a mais participativa das democracias. Uma transformação societária exige ouvir as mulheres em sua diversidade. Não podemos andar sós, nossa organização e nossos sonhos são coletivos! As organizações feministas devem prezar pela horizontalidade, porque ela permite que todas se expressem e evita dinâmicas de disputa de poder e de silenciamento. Nesse sentido, a auto-organização das mulheres tem o potencial não só de garantir participação de mulheres em espaços mais acolhedores, mas de formular política e influenciar movimentos em geral a pensar formas solidárias e democráticas de construção.
Auto-organização das mulheres no PSOL e a construção partidária
Entendemos que o PSOL tem o potencial de estimular a participação das mulheres na política em geral. Trata-se de um partido necessário, pois era preciso superar o paradigma de programa e militância do PT, projeto ao qual gerações anteriores de lutadoras e lutadores se dedicaram, e por isso é importante que nossas instâncias de debate estejam ativas, que nossos setoriais possam tocar lutas, campanhas e formulações dentro e para o partido bem como para fora do mesmo, o PSOL precisa ter a cara da mulheres que lutam e constroem esse partido em todos os tempos, para além dos pleitos e das disputas.
Desde os primórdios da criação do PSOL, quando o partido sequer tinha conseguido seu registro eleitoral, as mulheres já se organizavam em espaços próprios em torno da pauta feminista, fortalecendo sua atuação nos movimentos mistos e feministas, assim como contribuindo para o lastro programático da nossa ferramenta partidária que surgia. Em 2006, conseguimos realizar o primeiro encontro nacional de mulheres do PSOL, na cidade do Rio de Janeiro, com a participação de cerca de 100 delegadas, observadoras e convidadas, o que resultou numa melhor organização e funcionamento unitário do setorial nacional de mulheres, assim como dos estaduais. Fruto deste esforço, no primeiro congresso nacional do PSOL realizado em 2007, conseguimos aprovar a resolução congressual a favor da legalização do aborto com o voto de cerca de 85% das delegadas e delegados presentes. A força da auto-organização das mulheres só cresceu: nos congressos subsequentes, aprovamos algo inédito nos partidos de esquerda no Brasil: aprovamos cotas de 30% de mulheres nas direções partidárias, em seguida aprovamos a paridade de gênero, além de resoluções que tratam de situações específicas de violência contra mulheres praticadas dentro do partido e/ou por filiados.
Essa trajetória também viveu seus momentos de grave crise, como quando o Diretório Nacional votou uma intervenção no setorial e validou somente um setor das mulheres do partido para representar aquele espaço. Além da ruptura e do flanco que se abriu no funcionamento nacional unificado das mulheres, a gravidade deste cenário veio à tona quando a conjuntura começou a cobrar politicamente de nós, com a crise e os ataques que começaram a se abater sobre as mulheres e com o protagonismo delas nas principais lutas e mobilizações, tanto na cidade como no campo. A partir daí, decidimos experimentar um processo de recomposição do setorial nacional, com a formação de um coletivo paritário entre as mulheres que compunham a coordenação referendada pela maioria partidária e as mulheres que tinham sido alijadas da representatividade do setorial.
Neste percurso, sofremos um duro golpe com a execução política da companheira Marielle Franco, que nos fragilizou pela forma bárbara como ela nos foi tirada, mas que nos incentivou a seguir nesta tentativa de recomposição do setorial, para podermos dar consequência prática à frase que era dita por Marielle: “Eu sou porque nós somos”. O processo de recomposição conseguiu nos aglutinar para atuar fortemente durante as marchas do #EleNão, assim como para incidirmos com cara própria na construção do 08 de março, nas campanhas de denúncia da contrarreforma da previdência, que é misógina e prejudica sobretudo as mulheres.
Por isso, entendemos que o encontro nacional precisa ter o objetivo de consolidar todo este esforço, é tempo de firmarmos posições entre nós, apresentando nossa pluralidade de compreensões sobre o que deva ser o setorial, permitindo que as bases das mulheres do partido possam debater e decidir os rumos que tomaremos. É sobretudo, tempo de participação coletiva de todas nós, mesmo aquelas que mais precariamente dispõem de tempo para a construção numa compreensão de que se o partido deve acolher e sistematizar as experiências da classe, esse espaço de encontro precisa ser o momento de convergência das nossas muitas experiências, de debates que nos fortaleça para atravessar a “grande tempestade” que se anuncia na conjuntura, e ainda, de respeito às nossas muitas formas de construir a luta feminista.
Consideramos que PSOL é um partido capaz de estimular a auto-organização das mulheres em um projeto anticapitalista, ecofeminista e popular : que agregue a luta das camponesas, indígenas, quilombolas, negras, trabalhadoras urbanas e do campo, jovens, idosas, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis, imigrantes, mulheres com deficiência, mães solo, etc, articulando as diversas lutas cotidianas das mulheres.
Mas o PSOL só será capaz de ter esse papel no movimento de mulheres se apostarmos na auto-organização e democracia interna. A autonomia do setorial para tomar suas decisões e apostar num funcionamento sem disputismo deve ser um caminho no qual devemos persistir. Deste modo, devemos estimular plenárias locais, regionais/municipais/estaduais regulares de mulheres, garantir o fluxo de informações, constituir processos pedagógicos e horizontais entre as mulheres, debater em reuniões e formações as diferentes concepções entre as feministas. Os espaços organizativos devem ser pensados a partir de rodízio entre as mulheres, para evitar hierarquias e relação de poder.
Defender a auto-organização e a horizontalidade dos espaços feministas significa defender que a libertação das mulheres será obra das próprias mulheres - na família, no trabalho, nos espaços urbanos, no campo e na floresta. E a libertação das mulheres faz parte de um processo de questionamento da totalidade das estruturas sociais, e, principalmente, de seus objetivos: a reprodução do capital a partir do lucro. Se as mulheres tudo produzem - e reproduzem, com seus cuidados- então a elas tudo pertence, inclusive o futuro!
Assinam esta tese:
Ceará
Adriana Coutinho da Costa
Alcina Galeno Lima
Ana Claudia Maia Silva
Ana Ester Maria Melo Moreira
Ana Victória Mendes de Carvalho
Andreia Bezerra Crispin
Barbara de Oliviera dos Reis
Beatriz Rego Xavier
Carina Souza Costa
Claudia Cristina de Araújo
Cleidilene de Oliveira Pereira Lima
Eveline Barros Leal
Fabiola Mota Falção
Francilene Candido dos Santos
Francisca Marcia Araújo Lustosa Cabral
Gilda Wirght de Faria Virigilio
Hannah Jook Otaviano Rodrigues
Iamara Silva Mendonça
Jeovana da Costa Barbosa
Jessica Reis Lamblet
Julianne Melo dos Santos
Kathelyn Nayane Francisca de Freitas Nobre
Larissa Amaral Marajó Lauriana de Almeida Alves
Lavinia Monte Silva Oliveria
Louise Anne de Santana Sales
Maria Auxiliadora da Silva
Maria de Oliveira Pereira
Maria do Socorro Lima Vasconcelos
Maria Evila Moura de Almeida
Maria Isabele Farias Moreira
Maria Janaina dos Santos
Maria Samya Magalhães Lima
Maria Sofia Silveira Abreu - militante trans
Marília Soares Cardoso
Narcelyanne Maria Alves de Morais Teixeira
Nathalia Lima Maia
Nayara Aline Soares Mendonça
Raissa Benevides Veloso
Rayara Oliveira de Santana
Roberta Menezes Sousa
Rosangela Vírginia Costa de Araújo
Rute Alves Duarte
Sandra Castro Forte
Sandra Tedde Santaella
Selma Cristina Nogueira
Simone Farias Cabral de Oliveira
Solange Pereira dos Santos
Tessie Oliviera dos Reis
Vanda Maria Martins Souto
Verônica Marai Benevides Pedrosa
Rio Grande do Sul
Alice Carvalho da Silva dos Santos
Ana Katia Abrahao de Oliveira
Cheron Zanini Moretti
Elisabete Zardo Búrigo
Geanine Vargas Escobar
Karina Macedo
Kauane Andressa Müller
Kellen Lisandra Santos
Loiva Isabel Marques Chansis
Nathália Drey Costa
Paloma de Freitas Daudt
Santa Catarina
Aline Silva da Cruz
Clarissa Grahl dos Santos
Daniele Rehling
Franciele Rodrigues da Silva Garcia
Geórgia Paula Martins Faust
Jaqueline Setti
Maiara dos Santos Marinho
Thayane Letícia Maçaneiro
Paraná
Camila Viviane
Gabriela Maria dos Santos
Hiolanda Galvão da Costa
Izabela Spezzia
Jacqueline Parmigiani
Micaele Jenifer de Araujo Ribeiro
Isabela Caroline Hilário
Luane Grisa Mossellim
Patrícia Riffel de Almeida
Viviane Fortes Barbieri
São Paulo
Ana Carolina Andrade
Ana Lia Galvão de Barros Almeida
Carolina Silva Peres
Danieli Sousa
Fernanda Malafatti Silva Coelho
Jaqueline Angelotti Bastos
Julhiana Depieri
Juliana Westmann Del Poente
Mariana Haug
Mariana Luppi Foster
Martha Malheiros
Rosa Maria Marques
Rio de Janeiro
Ana Clara Souza
Ana Elisa Araujo de Oliveira
Andressa Eulália
Angela Bicalho Moreira
Claudia Jurema Macedo
Dani Petti
Dyonne Chaves Boy
Fernanda Krauss Campello
Grasielle dos Santos de Freitas
Keyla Cravalho
Lívia Alves Rodrigues Gomes
Maria Clara Victorino Barreto Lima
Sofia Barbagelata Figueira
Talita Menezes do Nascimento
Virginia Carvalho
Espírito Santo
Carolina Brito de Oliveira
Jamila Bonfá
Lidiane Cristine dos Reis Souza
Tuanne Almeida de Souza
Camila Costa Valadão
Indra Fairbank de Lucas Jäger
Maria Cecília Sousa
Suellen Gomes dos S. Suzano de Oliveira
Minas Gerais
Adriana Araújo
Aurelicia Teixeira Costa
Dirlene Marques
Franceny Almeida
Joanice Ferreira Meireles
Joia Rara
Joselene Babosa dos Santos
Liliane Nascimento
Luciane Senra Soares
Maria da Conceição Monteiro Guimarães
Maria da Consolação Rocha
Marina Eduarda Oliveira Campos
Sandra Coelho
Stela Oliveira
Thais Corsetti
Mato Grosso do Sul
Laís Rondis
Pernambuco
Antonia Elizabete Leandro da Silva
Fabiana Cristine da Silva Nascimento
Rio Grande do Norte
Anita Prosperi Queiroz
Francisca A.do Nascimento
Iraní da Silva Farias
Iranilda Catarina da Silva
Ivanilde Cosme da Silva
Joana D'Arc R. de Lira
Mª Gildete H. de Medeiros
Maria Ester A. de Oliveira
Maria Leide Cruz da Silva
Nayuri Caroline de Paula
Rosicleide dos S. Martins
Rosileide dos S.Martins
Rozirene A. dos S. Martins
Salvina Mª C. Andrade
Tárzia Maria de Medeiros
Victória Mendes
Zilta Nunes de Oliveira