O Trabalho Liberta

O título deste artigo não é um acaso. Assim como também não foi um acidente ou mesmo uma coincidência retórica o discurso do nazista Roberto Alvim.
A frase do título é composta pelos dizeres expostos no portão do campo de concentração de Auschwitz I para lembrar que o que se diz sempre encontrará ressonância na História.
O nazismo não foi um acidente. Escolhas conscientes levaram a essa barbárie.
Não foi apenas por causa de Hitler, de Goebbels, dos nazistas que o nazismo avançou, mas também dos que lhe foram cúmplices, dos que consideravam lucrar, ganhar algo com tanta crueldade.
O governo Bolsonaro tampouco é um acidente.
O presidente do grupo Itaú-Unibanco comemorou a taxa de desemprego de 12%: "Quando tem fator de produção sobrando tanto, significa que podemos crescer sem pressões inflacionárias".
As declarações preconceituosas, os elogios à ditadura e as ameaças de medidas similares ao AI-5 feitas pelo presidente e membros de seu grupo político não incomodam os banqueiros que lucram com a desgraça do povo.
A ministra Damares Alves justificou o abuso sofrido pelas meninas da Ilha do Marajó, no Pará, da seguinte forma: "Especialistas chegaram a falar para nós que as meninas lá são exploradas porque elas não têm calcinhas, elas não usam calcinha porque são pobres".
Tais declarações não são simplesmente incontinências verbais de um grupo dentro do governo. Elas são generalizadas e constituem a base ideológica de reforço as medidas que retiram direitos e atacam os segmentos mais vulneráveis da população.
Fazem parte da turma do Guedes que afirma que pobre não sabe poupar, pois consome toda a "fortuna" que ganha.
A menina foi estuprada? A culpa é dela por ser pobre e não ter dinheiro para comprar calcinha. O problema da economia é que o pobre gasta tudo o que tem e não poupa. O trabalho escravo também é culpa do pobre que não quer trabalhar. Até o desmatamento é culpa do pobre porque tem fome e desmata, nas palavras do ministro Paulo Guedes.
Para a burguesia não basta explorar, é preciso humilhar diariamente o povo pobre e fazê-lo acreditar ser ele o responsável por sua condição.
Não basta explorar e escravizar, é preciso ainda deixar escrito como um escárnio para a história: "Brasil acima de tudo. Deus acima de todos".