Adeus, Ford! Estatização não resolve o problema

Por Carlos Schmidt (*)
Os trabalhadores estão impactados pela saída da Ford do Brasil, principalmente pela perda de empregos diretos e indiretos, calculados pelo DIEESE em 118 mil, dado que agrava ainda mais o contexto que envolve a ampliação do desemprego.
Além disso, se aprofunda o processo de desindustrialização em curso, que reforça a vocação de produtor primário do país, regredindo ainda mais o papel do Brasil na divisão internacional do trabalho, que já tinha pouco dinamismo econômico, mantendo a dependência do imperialismo.
A resposta, no meu entender simplista, de estatização da empresa Ford, além de pouco espaço na opinião pública, aponta como solução a condução da empresa pelos burocratas, prática que nas estatais existentes tem esvaziado seu caráter público.
Nesse sentido é possível pensar como alternativa transformar as empresas abandonadas em empresas recuperadas, iniciativa com expressão na Argentina e também no Brasil. Se trata de empresas nas quais os trabalhadores assumem o regime de autogestão e assim preservam a capacidade produtiva dos trabalhadores e dos equipamentos da antiga fábrica.
No caso da Ford cabe a reflexão de dois pontos fundamentais:
1. Na negociação com os trabalhadores demitidos, além do que já foi negociado como benefícios individuais, a Ford atribuiria a cada trabalhador, sob a forma de ativos da empresa, o valor de digamos 40% do total da indenização, com o qual poderiam constituir uma empresa recuperada. O complemento para atingir o valor total seria aportado pelo BNDES Participações. No conselho de administração, os representantes do BNDES Participações, seriam representantes das centrais sindicais na proporção da sua representatividade. A direção da empresa seria escolhida entre seus trabalhadores e a gestão da mesma contaria com o protagonismo do conjunto dos trabalhadores;
2. A nova empresa deveria trabalhar na perspectiva de mudança radical na área da tecnologia no sentido da preservação do ambiente, por exemplo investir na produção de veículos coletivos e individuais elétricos. Neste tipo de produção deveria haver articulação com políticas de Estado na área tributária, compras públicas, planejamento urbano e ambiental. Situações como esta – a saída da Ford do Brasil – devem ser enfrentadas não só no sentido de impedir o agravamento do desemprego, questão por si só de suma importância, mas avançar na questão ambiental, de alteração das relações de produção, superando as posições simplistas que apresentam poucas possibilidades de trânsito junto à população.
Desta forma poderemos dizer: Adeus Ford, já vais tarde. (*) Professor aposentado da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, especialista e Economia Solidária e Autogestão.