Marielle presente!
"O Corpo Negro é elemento central na reprodução das desigualdades". No dia que lembramos que são 3 anos sem Marielle e 3 anos sem respostas sobre o crime que tirou a sua vida e do motorista Anderson Gomes, mostramos como sua frase representa de maneira certeira a realidade da população negra no Brasil.

João Paulo Valdo (*) e Alice Carvalho (**) Dados do Atlas da Violência (2020) demonstram que a maior parte da violência letal no Brasil é da população negra. Até o ano de 2018, os negros representaram 75,7% das vítimas de homicídios, e os não negros 13,9%. As mulheres negras, nesse mesmo período, representaram 68% do total de assassinato em nosso país. E se analisarmos o período de 2008 a 2018 as taxas de assassinato da população negra tiveram um aumento de 11,5%, já para os não negros houve uma queda de 12,9%.
Segundo dados da Coalização Negra Por Direitos, em 2020, no país, 67% da população negra dependente exclusivamente do SUS; 71,5 % dos inscritos no Cadastro Único são negros/as; 63% das casas chefiadas por mulheres negras estão abaixo da linha da pobreza e 32,8% das mortes pela COVID-19 são de pessoas negras.
Tais dados revelam três importantes elementos ao debate: i) a população negra no Brasil, historicamente é alvo da violenta ação do Estado, através de medidas políticas, jurídicas e simbólicas, que provem o extermínio e o genocídio do povo preto; ii) a população negra está nos espaços de trabalhos mais precarizados e degradantes, que evidencia a super exploração da força de trabalho no país; iii) a política agressiva e contínua de austeridade às políticas sociais impacta de maneira mais dura à população negra. Em síntese: esses fatos expressam que o racismo estrutural é componente fundante e necessário para a constituição e manutenção das relações sociais de produção e reprodução do capitalismo dependente brasileiro. O que no contexto pandêmico e de ausência de ações efetivas do governo genocida, ultraconservador e negacionista de Bolsonaro, impactam de maneira ainda mais severas à população negra. O povo preto também morre mais na pandemia, nesse sentido, negar o direito à saúde é genocídio! Reverter esse quadro é urgente!
Iniciar o texto com uma frase de Marielle e os dados acima foi proposital por dois aspectos: i) revelar, como a mesma disse: “Falar de raça é falar da dominação e escravização de um povo, do apagamento, silenciamento e retirada da sua humanidade. Falar sobre raça é falar sobre a desigualdade que estrutura a nossa sociedade até hoje; e ii) abrir caminhos para expressar, através do legado de Marielle, a importância da luta antirracista no ano que completa 3 anos da sua brutal execução.
Marielle Franco era mulher negra, mãe, LGBT, cria da Maré, defensora dos Direitos Humanos, socióloga, mestra em Administração Pública e socialista. Em 2017, se tornou vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL.
Infelizmente, 14 de março não é o mesmo desde 2018. Marielle foi arrancada de nós de maneira brutal e ainda restam dúvidas sobre quem mandou mata-lá e quais foram as motivações de tal crime. Sua execução representa como os espaços de poder são negados à população negra, e como o racismo institucional pune a negritude que ocupa tais espaços, sobretudo as mulheres negras. E Marielle Franco, ocupou com maestria e valentia a vereança na cidade do Rio de Janeiro pelo PSOL. Foi aguerrida, pautou e defendeu a negritude as mulheres, a população LGBTQIA+, os direitos humanos. Participou de eventos, palestras, debates, conferências, atos, homenagens e audiências públicas. Esteve a frente da presidência da Comissão da Mulher da Câmara Municipal, denunciou as ações antipovo de Marcelo Crivella e, ao total, foram 35 atendimentos, 13 projetos representando os 46.502 votos recebidos.
Marielle, com toda a certeza, foi gigante! Balançou a casa grande, incomodou e gerou sementes que germinaram. Seja ocupando espaços de poder como os parlamentos municipais, estaduais e federais, seja construindo diariamente lutas sociais.
Tal crime político tentou intimidar os que lutam e sonham com um novo modelo de sociedade. Entretanto, resistiremos. Enquanto houver perguntas, haverá busca por justiça! Domingo, novamente, iremos exigir justiça por Marielle Franco e Anderson Gomes. Exigiremos, até obter êxito, que as investigações revelem e penalizem os culpados pela sua execução. E, além de lutarmos por justiça, também iremos reafirmar que sua memória, história e luta está presente e movimenta a luta antirracista e socialista. Esse foi seu legado. É assim que o multiplicaremos e regaremos suas sementes. “Não serei interrompida!”
MARIELLE, PRESENTE! HOJE E SEMPRE!
(*) João Paulo Valdo é militante da Comuna e assessor parlamentar do Mandato Ilma Viana.
(**) Alice Carvalho é militante da Comuna e foi a candidada a vereadora mais votada da cidade de Santa Maria em 2020.